segunda-feira, 16 de maio de 2011

Redes Sociais

Redes Sociais
Ivânia Ghesti-Galvão e Nayana Amorim (SERUQ/SUAQ/TJDFT)
Sem ter alguém com quem contar,
ninguém pode se tornar humano”
(Povia, 2005)

A complexidade e complexificação da sociedade humana tem requerido conhecimentos teóricos e práticos cada vez mais abrangentes para subsidiar ações em prol da sustentabilidade social e da melhoria da qualidade de vida.
Os problemas e as soluções sociais decorrem das relações pessoais, históricas, econômicas e de outra ordem, que as pessoas, famílias, grupos e instituições estabelecem uns com os outros, isto é, das redes sociais. Em termos pessoais, as redes representam a trama de relações que cada indivíduo estabelece em função do contexto em que se desenvolve e das escolhas que realiza no decorrer da vida. As redes sociais contribuem para o desenvolvimento do sentimento de pertencimento da pessoa e são fonte de identidade pessoal e social (Sanicola, 2008). Elas exercem duas funções principais, em vários níveis (afetivo, material e normativo): uma função de suporte e uma função de contenção e controle. Por isso, a falta e privação de vínculos confiáveis e saudáveis com família, escola, emprego e outras instituições podem deixar a pessoa mais vulnerável a sofrer ou praticar violências. Diante disso, pode-se compreender que a superação de várias questões sociais só é possível a partir de um trabalho em rede e da reconstrução de vínculos afetivos, normativos, políticos e assim por diante. A própria lei, por exemplo, é um elemento para organização da convivência humana, mas para uma pessoa aderir às regras sociais, segundo Caligaris (2005), antes de tudo, ela precisa sentir-se pertencente a este grupo que definiu as leis. Por isso, o trabalho em rede entende a importância de se exercer tanto a função de suporte como a função de contenção e controle.
O mesmo se aplica aos agentes sociais e do Estado. Apenas em parceria é possível um real enfrentamento das demandas que se apresentam. De acordo com Faleiros (2001, p. 26),
As redes não são invenções abstratas, mas partem da articulação de atores/organizações – forças existentes no território para uma ação conjunta multidimensional com responsabilidade compartilhada (parcerias) e negociada. Esta definição de redes pressupõe uma visão relacional dos atores/forças onde a perspectiva de totalidade predomina sobre a de fragmentação. Supõe também que as redes são processos dinâmicos e não organismos burocráticos formais (embora possam existir), mas como contratos dinâmicos, em movimento e conflito, para realizar objetivos em que cada parte potencializa recursos, que as tornam mais eficientes”.
Sanicola (2008) cconsidera que os problemas podem ser entendidos como um desequilíbrio entre desafios que a vida apresenta e recursos para enfrentá-los. Trabalhar em rede, nessa visão, é identificar e mobilizar recursos disponíveis para lidar de modo adequado com os desafios. Esses recursos podem ser encontrados seja na rede primária do indivíduo (família, vizinhos, amigos, trabalho) como na rede secundária (escola, serviços de saúde, Igreja, ONG´s e todas outras instituições, organizações de mercado e de terceiro setor que participam da vida do sujeito). Cada nó da rede possui uma estrutura e uma função própria, influenciando-se mutuamente (Sanicola, 2008). A intervenção em rede, portanto, trabalha sobre o risco de vulnerabilidade das pessoas e a possibilidade de reduzi-lo na medida em que consegue ampliar, em quantidade e qualidade, o capital de relações humanas daquele indivíduo.
Outro ponto fundamental da intervenção em rede é proporcionar que a rede primária (a família em primeiro lugar), também chamada natural ou informal, possa estabelecer uma relação de autonomia com as redes secundárias (artificiais ou formais) e essas devem prestar ajuda sem substituir a rede primária e sem tirá-la de seu potencial de protagonista social. Disto advém a particularidade das redes do terceiro setor (ong’s por exemplo), elas vão estar entre o informal (mesmo não sendo primárias vão atuar de forma mais próxima) e o formal (vão atuar nas necessidades daquela comunidade, mediando-as para instituições de garantia de direitos).
A intervenção de rede supõe um projeto de ação social em que os percursos do Estado e do mercado possam ser orientados pelo espírito de doação e reciprocidade, mais que pela obrigação de fornecer serviços. A lógica da intervenção de rede é a da subsidiariedade horizontal, portanto o operador nunca é considerado alguém que deve agir “no lugar de”, mas aquele que é capaz de sustentar uma reflexão sobre as relações de rede, ou seja, aquele que consegue estabelecer um processo de conhecimento das relações para compreender as dificuldades e os problemas presentes encorajando a divisão de responsabilidade.
A finalidade da rede vai alem da ação para a resolução de um problema, a finalidade é muito mais incentivar a partilha de necessidade e reforçar os laços interpessoais e de rede. Dessa forma, o operador deve provocar uma reflexão na rede, de modo que fique claro o desejo de mudança da própria rede, e encorajar sua mobilização.
Através do estudo das teorias de redes sociais percebemos que trabalhar em rede vai além do mero mapeamento e encaminhamento a instituições de serviços. É imprescindível a atenção às necessidades do cidadão e da comunidade e a ajuda para que se percebam, assim como os agentes sociais, como parte de um todo dinâmico e em permanente construção.

Referências:
FALEIROS, Vicente. de P. ; FALEIROS, Eva T.S. (Coord.). (2001). Marco referencial teórico. Em Curto e Curto-Circuitos: atendimento, defesa e responsabilização do abuso sexual contra crianças e adolescentes. São Paulo: Veras Editora.
SANICOLA, Lia. As dinâmicas de rede e o trabalho social. São Paulo: Veras Editora.

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